Hoje tem marmelada? Tem sim, senhor!
Hoje tem goiabada? Tem sim, senhor! Hoje tem espetáculo do
Circovolante? Tem não, senhor!
Todas crianças, jovens, adultos e
principalmente a produção do 5º Encontro Internacional de Palhaços acorda hoje
triste e alegre ao mesmo tempo. Alegre porque certamente todos iriam descansar
no dia seguinte, mas triste porque o encontro desse ano chegou ao fim. Foi um
longo trabalho que foi além de apenas 4 dias, com a pré produção para receber
palhaços do mundo inteiro. E só quem esteve durante 4 dias quase que durante 24
horas sabe a importância que o Encontro tem.
Corre pra cá, corre pra lá.. É uma imensa
equipe que cuida dos mininos detalhes
para tudo estar impecável para o público e que também se entristece
quando não consegue fazer o planejado, mesmo quando tenta o impossível para que dê certo, mas as vezes
os problemas técnicos não podem se resolver em poucas horas. Foi o que
aconteceu com o espetáculo do homenagedo Chicrete. Ele não se apresentava desde
2001 e seria sua estreia depois de tantos anos longe. Quando soubemos que era impossível
resolver, toda a produção se estristeceu e a nossa vontade era juntar todo
mundo e nós mesmo montar e desmontar tudo para que pudesse acontecer, mas
infelizmente nem isso era possível, fugia do nosso controle. Mas quem disse que
isso deixou o palhaço Chicrete pra baixo? Seu Aridelson, tem 74 anos e uma
maneira de viver a vida que muitos jovens de hoje nunca vão entender. Poucos
minutos ao seu lado conversando já é mais que suficiente para você se apaixonar
pela lição de vida pessoal e artística que ele tem. Sempre chegando na sede com
aquele sorriso no rosto que mais parece de um menino ainda pequeno tentando
conhecer a vida do circo.
Se assustou com a idade desse senhor que
ainda é um grande artista do circo? Então acalme-se até que eu te conte do
Palhaço Alegria. E como o próprio nome já diz, o palhaço alegria é pura
alegria. Aos 80 anos ele distribui alegria e contagia a todos. E acredite,
quando fui acompanha-lo no hotel ele não me deixou carregar suas malas (risos)
e me pediu pra ter cuidado com seus sapatos, sua segunda paixão na vida, porque
a primeira é sua esposa que o acompanha para todos os lados. Durante o cortejo,
que estava atrasado, ele estava inquieto e andava pra lá e pra cá e eu cheguei
perto dele e disse:
- Tá demorando começar, né?
E ele, com uma com a maior calma do mundo, já
com sua roupa de palhaço, me respondeu:
- Nada, é assim mesmo, essas coisas
demorando. Eu gosto de ficar andando pra lá e pra cá porque sentir esse clima
da criançada. É a melhor coisa.
Sempre muito receptivo e com aquele sorriso
de vô no rosto, todos os momentos que ele chegava na sede do Circovolante era
sempre com essa alegria e felicidade estampada no rosto.
Por falar em cortejo, só quem vai todos os anos
pra sentir a emoção que o Circovolante transmite. Tudo começa as 15:00 horas na
sede quando os narizes vermelhos e bochechas rosadas começam a dar cor nos
rostos da criançada. A fila não pára e a produção fica louca, afinal ter mais
de 10 crianças puxando na sua barra da calça pedindo isso ou aquilo não é algo
que costuma acontecer todos os dias. A correria só aumenta e os nomes que mais
se ouvem é: "Ô Jack", "ô Jackelllne", "Ô Jaquee", "ô Diack", "Giaaaque". E acredite é a mesma pessoa,
responsável pela produção executiva e ela não fica louca, mas chega quase lá.
Dá uns esporros de vez em quando, uns gritos mas você consegue ver claramente
em seus olhos que ela ama tudo isso. E mesmo quando acaba o horário permitido
para as caras pintadas, os pais ainda chegam cada vez mais e mais e nos enlouquecem
junto com as crianças. Mas o cortejo tá saindo, corre senão você fica pra trás.
Momento de muita emoção! Hebe Hola declama poema dedicado ao homenageado e em
volta dela você consegue ver palhaço para todos os gostos, jeitos e maneiras
que você quiser ou imaginar. O Circo está formado! Não é uma lona, mas é um
cortejo ao som de muita musica e muita alegria. Quem ficar por ultimo é a
mulher do padre.
Mas não pára por ai: tem o Vira-lata: o
palhaço está solto que em plena quinta a noite, que conseguiu atrair sorrisos e boas
gargalhadas de todos na Praça da Sé lotada mesmo com o frio. Teve a Família
Clou que é a mais fofa do Brasil no espetáculo e fora dele. Eles foram além e
mostraram que a cultura é pra todos independente de condição física ou psíquica.
Emocionaram o público do Jardim e fizeram duas crianças cegas no publico não só
ouvir mas sentir o palhaço. E não se contentaram com tamanha emoção, foram ao
asilo de idosos e deram um show de alegria para as mais velhas e
eternas crianças. A paixão pelo circo e o prazer em fazer o que amam ultrapassa
todos as barreiras. Na nossa sede, toda vez que um deles se aproximava era possível
sentir as boas energias que eles possuem e conseguem transmitir só de estarem
perto.
Tinha também a Cia. El Indivíduo com
suas cadeiras e suas façanhas sob elas. Teve bate-papo com Verônica Tamaoki, coordenadora do primeiro Centro de Memória do Circo,
criado em São Paulo e conversou com o publico. Ela contou fatos e histórias sobre os circos brasileiros, trazendo
lembranças e resgatando a identidade artística e cultural para o publico que
estava presente. Teve o Grupo Circunstância dando um show envolvendo
circo, teatro e musica no domingo a tarde, assim como a Banda Osquindô, que
além da musica, produziu um espetáculo digno de aplausos. Não era o time de futebol brasileiro, mas os pernas de pau arrasaram no
futebol na praça da sé, assim como ateliê da Comicidade que se preparam durante
um bom tempo para o espetáculo, usando objetos inusitados como lata de tinta. Ousaram e abusaram da musica, que tinha direção de Rodrigo Robleño.
Teve também o Chameguinho, que chegou na ultima hora e ainda assim lotou o Jardim no
sábado a noite. Cheio de charme e chamengo, carismático e interagindo com o
público ele conseguiu fazer um grande espetáculo com gostinho de quero mais. Já
o Domingo foi dia de trapalhada, digo, de Dedé Santana e Baiaco, pra matar a
saudades dos Trapalhões. A risada foi garantida e as piruetas também. Pais que
cresceram vendo os trapalhões, estavam com seus filhos prestigiando o espetáculo
emocionados. E a fila no camarim depois do espetáculo era enorme. As
assistentes de produção ficavam malucas. O próximo grupo já ia chegando e
trocavam de roupa ali mesmo, com Dede, produção e os fãs de Dede Santana. Uma
verdadeira loucura e acredite, a chuva lá fora não dava trégua. Baiaco
acompanha Dede no show e durante o encontro também, ele foi durante muitos anos
o dublê de Didi e se tornava durante o encontro uma das grande atrações, mas também
uma das grandes emoções de Biribinha. A
turma do Biribinha também não deixou de comparecer e mais uma vez Teófanes
Silveira deu um show em plena sexta a noite. No Domingo ao comparecer na sede
batemos um bom papo e ele me disse:
- Tive a maior emoção da minha vida no
encontro desse ano. Fui amigo de infância de Baiaco e depois de 50 anos
reencontrei com ele aqui. Foi o abraço mais apertado e emocionante que eu já
tive.
Arrepiei e ele começou a me contar não só sua
história e relação com ele, mas com o circo. Ele que no ano passado morou em
sua casa apenas 12 dias e esse ano só foram 3. Do resto ele vive nas estradas e
nas cidades onde se apresenta , faz isso há mais de 40 anos. Aos seus 66 de idade ele se considera a pessoa mas feliz do mundo e acredita que o palhaço seja uma das pessoas mais fortes que existam.
Teve também o Chacovachi que veio
diretamente da Argentina. Tinha o Teatro de Anônimo, o Dois irmãos, o Carota ,
o Lapatera, o La Mínima. Mas tinha também o Xisto que é o poderoso, o João que
não larga o placo por nada , a Jack que é chamada por tudo e todos, a Carolzinha
que se vira nos 30 e fica ligada no 220 o dia todo, a ana que é amélia e não larga da cozinha por nada, a
Bárbara magrela que é tão doce e meiga como a goibada de são Bartolomeu,
a Mayra que vem lá de Ouro Preto, a Nathalia que é paulista mas que ama MG , a Gisele que vem do Oskindô e o João Victor que não larga das redes sociais e mantêm todo mundo informado. Tem também a eliane que fala
manso e calmo, mas que no fundo está tão louca como todos nós. A Lalão que
customiza as camisas e o Adão que faz tudo, até vigia ele vira quando precisa
dele nos 45’ do segundo tempo. Tem o Felipe que é o cara do carro e o Samuel que
junto com um tanto de gente carrega e descarregada tudo de lá pra cá. Tem o gordinho com sua equipe do som e os técnicos da luz que bem aos poucos
aparecem. Tem a Nath e o Lincon que deixam o espetáculo marcado na memória de
boas fotos que são recordadas pra sempre, assim como o Marcelo do dread que
entrevista aqui, entrevista lá e deixa registrado o sentimento de cada um que
por aqui passa. E tem a Mayra Lopes com a Doizum Comunicação que cuida da
imprensa. Tem o curso de Jornalismo da UFOP marcando presença: é a Verbalize
Empresa Junior e os alunos da cobertura jornalística que não páram um minuto e
reafirmam sua paixão pelo curso em cada dia do evento. É uma grande família. E ela tem pai, mãe, primo, prima, subrinha, cunhada. Todos eles vindo de Governador Valadares, da casa de Xisto Siman, mas que em muitos momentos pegavam no batente e ajudava essa produção enlouquecida.
Gente simples, elegante e sincera que fez e faz o encontro acontecer.
Gente que ama o que faz, que se apaixona, se emociona, se comove, que não dorme
e que já esta morrendo de saudades de tudo e todos.
No ultimo dia do encontro, Rodrigo Robleño chegou na sede do Circovolante
onde estava a maioria da produção e brincou:
- e ai turma, isso está parecendo redação da NY Times.
Pode não ser a NY Times, mas as histórias que passaram por ali todos os
dias, são tão grandes e importantes como as da NY Times. Todos os dias ouvi
historias e casos dos mais variados assuntos, mas que de uma maneira ou de
outra conseguiam me arrepiar. E tirei uma conclusão: o palhaço é um dos
artistas mais fortes que eu conheço! Não somente fisicamente, mas mentalmente!
A maioria, seja ele com seus 80 anos ou mais jovem com 8 anos de
idade, pulam piruetas, cambalhotas, sobem, descem e encantam as pessoas com
suas piadas e espetáculos, mas também com seu olhar, sua conversa amiga e sua maneira
de viver a vida.
O Circovolante não produz apenas um encontro internacional de palhaços,
ele produz alegria e transforma o sonho de uma criança ou de um adulto em
realidade. Faz com que aquele momento mágico se torne memoria pra sempre na
vida de cada um que por aqui passa, sejam eles palhaços ou o público. E a cidade
se identifica, apóia e quer sempre mais. Mais do que proporcionar cultura e
entretenimento, realiza também um trabalho artístico e social capaz de
deixar essa saudades gostosa que não sai de mim.
Mas quem viu viu, quem não viu pode separar a melhor roupa e se preparar
pra próxima quinta-feira no Distrito de Santa Rita Durão e sexta-feira no Distrito de Bento Rodrigues
para o espetáculo Sem Refresco, apresentado pelo próprio Circovolante. Se você
perder essa também, ai só em 2014 com o 6º Circovolante – Encontro Internacional
de Palhaços que tem previsão de ser realizado em abril ou maio. Coitada dessa
produção, nem vai ter tempo pra descanso.
Não foi, mas que saber o que rolou?
Você foi, e quer conferir as fotos e os próximos
eventos?